Santa Teresa d’avila

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QUEM FOI SANTA TERESA D’ÁVILA

Teresa de Ahumada nasceu em Ávila, em 28 de março de 1515. Seu pai, Alonso de Cepeda, depois de ter se tornado viúvo com dois filhos, se casou com Beatriz de Ahumada. Teresa foi a terceira de dez filhos que tiveram. Cresceu em um ambiente muito religioso, onde desenvolveu uma impressionante e tão importante sensibilidade desde tenra idade. Em uma sociedade iletrada, seus pais lhe ensinaram o gosto pela leitura desde cedo.

Aos treze anos ela perdeu sua mãe. Este golpe e as próprias crises da adolescência acabaram agravando um problema emocional que se arrastou dolorosamente até a conversão final. Fisicamente graciosa e com grandes habilidades sociais, ela logo conseguiu “a vaidade do mundo”. Já no internato de Santa Maria de Graça, após uma forte batalha interna, ela se decide por tornar-se religiosa. Dessa forma, ela pensava ter encontrado um meio seguro e melhor para sua salvação. Ela também não gostava das condições em que se casavam e viviam as mulheres e isso lhe causava medo.

Quando seu pai tentou impedir a sua entrada no Carmelo da Emcarnação, Teresa escapou, não sem muito pesar para ingressar no Carmelo da Encarnação. Ela tinha 20 anos e queria ser livre para conquistar o seu próprio destino. Seus irmãos também decidem por sair de casa rumo às Américas em busca de fortuna.

No Carmelo da Encarnação ela viveu por 27 anos. Em 1537 professou seus votos e, depois de apenas um ano, uma estranha doença lhe acomete, causando alarme de gravidade em sua família, que a coloca nas mãos de um curandeiro famoso. Esse tratamento piora sua condição. ela foi curada por intercessão de São José, mas essa doença lhe trouxe consequências que duraram sua vida inteira, tornando-se sua fiel companheira. Ela tinha 27 anos.

Durante período de sua doença, ela fez contato com a mística franciscana através da leitura do Terceiro Abecedário de Osuna, que foi muito importante em sua evolução espiritual, introduzindo-a na oração de recolhimento. De volta ao mosteiro, procura a solidão e a oração das quais não se satisfaz por anos. De um lado, a atmosfera não lhe era propícia. Havia cerca de 200 mulheres que viviam naquele mosteiro, porém a extraordinária personalidade de Teresa era destaque. Sua presença constante na sala era praticamente obrigatória, pois atraia a visita daqueles que deixavam boas esmolas. Entretanto, essa intensa vida social longe da oração a desagradava, pois lhe favorecia seu afeto sem limites.

Cada vez mais insatisfeita por não corresponder aos chamados de seu Amigo, ela começa a confrontar as suas experiências internas voltando-as para a luz. Foram muitos os confessores a quem ela confiou a alma ao longo de sua vida, caminhando sempre em busca da verdade. Sendo mulher, de família de judeus convertida ao cristianismo e de origem mística, não foi algo que facilitou ela obter algum crédito, mas na ciência encontrou apoio para sua experiência.

Em 1554, diante de uma imagem de Cristo ferido começa sua transformação. Daí em diante, não mais o medo a moveria, mas um profundo amor por aquele que a amou primeiro. Dois anos depois, em sua conversão final, o Espírito Santo invade sua alma e a liberta de seus problemas emocionais. Como fruto de sua conversão ela obteve uma atividade muito produtiva como fundadora e escritora que durou até sua morte.

“Se eu não tinha livro novo, eu não parecia feliz.” Teresa de Jesus confessa sua paixão pela leitura desde a infância. Nenhum estudo lhe havia sido reconhecido, pois às mulheres não era permitido estudar. Na verdade, naquela época por ser uma mulher alfabetizada foi um privilégio e, ao mesmo tempo a tornava suspeita. Suas leituras e conversas com os mais célebres teólogos do seu tempo fez com que adquirisse uma cultura teológica e espiritual sólida, que enriqueceu a sua própria experiência.

A relação dos livros proibidos que a Inquisição publicou em 1559 teve um grande impacto sobre Teresa. Essas leituras, a que tinha acesso em sua caminhada e processo de aprofundamento espiritual, lhe foram proibidas e Deus veio então ao seu encontro, “Não tenha vergonha, que eu darei a você livro vivo”. Jesus Cristo se tornou seu mestre interior. Experiência feita sabedoria, Teresa sentia urgência em comunica-la, para “engoloseimar as almas de bem tão grande.” E de leitora inveterada tornou-se escritora apaixonada.

A futura Doutora da Igreja escrevia sabendo que seu trabalho seria analisado e submetido para aprovação por um censor eclesiástico. Ela estava ciente de que uma mulher escritora seria desaprovada, mesmo que ela tivesse a intenção de ensinar. E sendo uma escritora de conteúdos espirituais, poderia ser condenada à Inquisição por heresia. Naqueles “tempos difíceis” o seu trabalho foi condicionado de uma forma que lhe aguçasse o juízo. A fim de ganhar a benevolência do censor, ela não poupou palavras para que ele soubesse que ela foi a primeira chateada com a tarefa, e que escrevendo em obediência e reconhecia-se inculta, pecadora e inapta.

Embora Teresa tenha escrito muitos poemas, ela é hoje uma figura eminente da literatura principalmente por sua prosa. Toda a sua obra é autobiográfica, embora seja possível encontrar outros gêneros literários, como o ensino, o tratado espiritual ou a crônica. Ela escreveu a partir da sua experiência concreta, sem dogmatismo ou abordagens abstratas. Este exercício de escrever lhe permitiu reviver suas experiências e reflexões espirituais. Nesta luta interna com a dificuldade de se expressar e esclarecer suas lições. As palavras colocadas sobre o papel confirmavam a realidade de suas experiências, sendo o rico feedback entre a escritora e sua caneta.

A dificuldade em expressar sua mística com uma linguagem sempre limitada foi uma verdadeira dor de cabeça para Teresa. Sua maestria e a originalidade das soluções que trouxe para a escrita lhe valem o adjetivo de “criativa” da língua. Ela teve inteligência para conceber todo um sistema, e apresenta-lo de uma forma encantadoramente simples que proporcionam às suas páginas a característica de exalar espontaneidade e frescor.

ESCRITORA E MESTRA

Amante da verdade, Teresa escreveu o Livro da Vida, sua autobiografia, que se destina a contrastar suas experiências com a ciência dos teólogos. Nesta autobiografia, cuja primeira versão foi perdida, a Doutora e mística insere os espaços com tratados sobre a oração e também já na segunda versão datada do ano 1562, a história da fundação de San José, convento que foi fundado por ela no ano de 1562.  Teresa a fez chegar ao mestre Juan de Ávila, que deu um veredito favorável. Mais tarde, a obra foi retida pela Inquisição por doze anos sem que encontrassem nada de errado nela.

Atualmente, o manuscrito autógrafo é preservado na Biblioteca Real do Mosteiro de El Escorial.

 

CAMINHO DE PERFEIÇÃO

Em 1566, já como madre, Teresa volta à sua caneta para conversar com suas freiras. Neste segundo livro, O Caminho de Perfeição, ela procura capturar a essência do seu projeto de vida no Carmelo descalço. A vida de oração que é a amizade com Deus e com os outros e, portanto, compromete toda a pessoa. Teresa aprofunda em três temas que são considerados essenciais para aqueles que querem para se tornar orantes: amor, liberdade e verdade.

Contextualizada numa sociedade aprisionada sob o jugo de suspeita, marginalização das mulheres ou o culto de honra, este livro apresentou a oração mental (especialmente desaconselhada para as mulheres), e lançou um olhar crítico sobre os costumes e atitudes de sua época.

A primeira versão deste trabalho teve que ser reescrita depois de dura censura. Hoje, seu manuscrito autógrafo encontra-se preservado na Biblioteca Real do Mosteiro de El Escorial. Muito ousada e de ironia, teve a redação suavizada na segunda edição, mais contida, cujo manuscrito autógrafo estão sob cuidados das Carmelitas Descalças em Valladolid.

AS FUNDAÇÕES

De 1573 até o final de sua vida, Teresa esteve narrando o processo de fundação dos dezessete mosteiros em que interveio. As Fundações é um livro que responde a seu desejo de deixar um registro escrito do que aconteceu para as futuras gerações de Carmelitas.

Teresa maravilhosamente combina sua doutrina, para aconselhar as comunidades nascentes, com as divertidas aventuras que causam gargalhadas no leitor. O livro As Fundações também fornece um magnífico retrato da sociedade espanhola do século XVI. A sociedade em que Teresa abriu os olhos para um novo estilo de vida, foi rodeada tanto por benfeitores como por acusadores que permitiram que a autora incluísse numerosos episódios de negociações, viagens, obras e a precariedade de recursos que foram parte dos inúmeros obstáculos que mostraram que humanamente o projeto era impossível. A chave que decifra a mensagem real do livro é o Deus oculto na história, o que ajuda nas dificuldades e a leva a ter bom término os empreendimentos. Cada fundamento é apresentado como uma epifania, uma história de salvação.

AS MORADAS

Durante o período em que o Livro da Vida, era revisado pela Inquisição, Teresa escreveu sua obra mais importante em 1577 é intitulado As Moradas. Seu manuscrito original encontra-se preservados pelas Carmelitas Descalças em Sevilha.

Este tratado da espiritualidade universal tal como está, foi redigido em apenas seis meses enquanto um grave problema caiu sobre sua pessoa e fundações. Circunstâncias adversas, mas de plenitude de vida.

Desde o período em que atinge sua maturidade espiritual, Teresa olha para trás e revela a sua própria caminhada espiritual. Ela a resume em sete etapas e deixa aberta a porta, para que cada pessoa que também desejar uma vida orante possa percorrer o seu próprio caminho.

O processo que ocorre em As Moradas parte de um ser humano desconectado de seu mundo interior e culmina em uma íntima união com Deus através do casamento espiritual. A pessoa é representada como um castelo, por cujos quartos e aposentos se devem viajar para chegar até a habitação em seu mais íntimo: o centro, que é onde Deus habita. A porta deste castelo é a oração, entendida como a amizade, que vai crescer em profundidade ao longo de todo o processo. O esforço inicial se transformará no receber das sétimas moradas. É um trabalho cheio de imagens sugestivas e de comparações ousadas que colocam em palavras o inefável.

MEDITAÇÕES SOBRE O CÂNTICO DOS CÂNTICOS

Por iniciativa própria, Teresa escreveu as Meditações sobre o Cântico de Salomão. Em duas versões. A primeira em 1566 e a segunda em 1574. Trata-se de um comentário oracional sobre o salamônico Cantico dos Cânticos. Um trabalho perigoso em um tempo em que fora proibida a leitura em romance da Bíblia, ou seja, a leitura da Sagrada Escritura fora das celebrações. Na realidade, ela recebeu de seu confessor a orientação para que o queimasse, porque, embora nada tenha encontrado de errado, ele não o considerou adequado ser escrito por uma mulher. Teresa obediente, o mandou ao fogo e, por essa razão, não existem os manuscritos. Felizmente, já haviam sido feitas cópias, e isso permitiu que chegasse até os dias de hoje.

CARTAS

Uma comunicadora extraordinária, assim era Teresa. Um grande número de cartas foram escritas por ela, especialmente quando iniciou a sua reforma. De todas estas cartas, apenas uma fração foi conservada, cerca de quinhentas.

Por meio de suas cartas, madre Teresa pode estar presente nas comunidades, interessada tantos em seus problemas como no aconselhamento à distância de suas filhas. Teresa desejou criar entre seus conventos uma rede para que o diálogo e a solidariedade fossem fluentes.

Através das correspondências enviadas a Abulense ela apresenta a sua realidade diária: a marcha das fundações, as preocupações econômicas, as negociações necessárias e apresentam também ela mesma. Sua caneta nos revela sua saúde, seu humor, sua delicadeza e preocupação pelos outros, seus problemas familiares, seus amigos, seus medos e o seu bom humor característico, tudo isso refletido em muitas anedotas contou.

Teresa dirigiu suas cartas para diversos públicos: freiras, benfeitores, parentes, padres, bispos até mesmo ao rei Felipe II. Daí o seu tema é variado. Um epistolar apreciado pelos historiadores por causa de sua riqueza de informações sobre o século XVI.

CONSCIÊNCIA

Sob o título de Contas da Consciência se retiram 66 fragmentos que Teresa de Jesus escreveu entre os anos 1560 e 1581. Em cadernos e papéis soltos, a mística expande seu caminho de oração e alguns fenômenos místicos que havia recebido. Esses escritos eram remetidos aos seus confessores em busca de discernimento. Também incluem a declaração que ela escreveu para o tribunal da Inquisição em Sevilha, quando foi processada.

De acordo com o testemunho de pessoas próximas a Teresa, ela compôs muitos textos, que foram perdidos ou destruídos. Os fragmentos que conhecemos chegaram até nós através de cópias que foram feitas dos manuscritos. Um deles é mantida em San José de Ávila.

EXCLAMAÇÕES DA ALMA A DEUS

As Exclamações da alma a Deus são um conjunto de dezessete textos que mergulhar o leitor na oração de Teresa. São descobertos sua alma sincera e diálogo amoroso com Deus. Nesses escritos chamam a atenção as inúmeras referências bíblicas.

Não se sabe quando ou onde foram escritos e hoje apenas se preservam cópias. O mais importante são mantidos no mosteiro das Carmelitas Descalças de Granada e da Biblioteca da Universidade Literária de Salamanca.

CONSTITUIÇÕES

Antes de 1565, Teresa tinha escrito breves estatutos que regiam as Descalças, sua primeira fundação. Tratava-se de um plano de vida em comunidade, que já era vivido pelas irmãs e que foi aprovada pelo bispo de Ávila. Infelizmente, estes manuscritos primitivos foram perdidos.

Em 1567, o superior geral da ordem deu o aval para versões mais extensas das Constituições, escritas por Teresa. As cópias são foram preservadas, apenas cópias. Não se tem certeza se foram as regras em vigor em San Jose ou preparados para os seguintes fundamentos, que estavam sob a jurisdição da ordem. O correspondente às faltas e sanções, não são das mãos de Teresa, mas tradução latina de um código penal anterior. Um ano depois, este texto se tornaria a base das Constituições dos frades.

Ao texto original da fundadora, os visitantes e algumas prioras introduziram algumas modificações nem sempre de acordo com ela. Teresa deu mais importância ao carismático do que o legal. Na verdade, Caminho de Perfeição seria o verdadeiro manual para o Carmelo descalço. Mas, como os textos se multiplicavam e eram retocados, era conveniente reescrever e fixar As Constituições. Teresa não o fez, mas os Padres Carmelitas Descalços reunidos em Alcalá (1581). O desejo da mãe fundadora era que as irmãs participar do processo. Através dele, reforçou todas as suas comunidades que contribuíssem com uma palavra de experiência, que ela mesma se encarregou de revisar e transmitir com insistência ao padre Gracián. No entanto, nem todos os pedidos da fundadora foram ouvidos e refletidos nestas Constituições. Por desejo expresso de Teresa essas Constituições foram publicados em Salamanca.

O texto incluído nas edições atuais das obras de Santa Teresa é o anterior ao Capítulo dos Padres Carmelitas de Alcalá.

CARMELITAS DESCALÇAS

A Visita das Irmãs Descalças é uma pequena obra datada de 1576 em que Teresa escreveu o pedido ao Padre Gracian, em Toledo. O objetivo era fornecer uma série de diretrizes para os visitantes das novas fundações para que o seu serviço na visita canônica fosse de proveito para as comunidades.

Este escrito, preservado na Biblioteca Real do Mosteiro de El Escorial, de forma simples e espontânea revela o pensamento de Teresa em questões práticas: realismo, eficiência e bom senso.

DESAFIO

Entre 1572 e 1573, sendo Teresa de Jesús priora no convento da Encarnação, recebeu um desafio espiritual de um dos Carmelitas Descalços, provavelmente vindo de Pastrana. Na carta colocam uma série de duras penitências, desafiando as freiras por meio de um “torneio ou embate para o divino”. Teresa responde em 1574, levando a luta para o campo das virtudes, campo de trabalho Teresiano por excelência.

Uma cópia do manuscrito, perdido no século XVIII, por razões desconhecidas, está na Biblioteca Nacional em Madrid.

VEJAMEN

No final de 1576, Teresa recebeu essas palavras em oração: “Busque-se em mim”. Experiência que comunicou a seu irmão Lorenzo, pedindo a sua opinião. Enquanto isso, ela consultou seus confessores. E o resultado da reflexão em comum, compartilhado na sala do convento de San José, escreveram à madre Teresa, que se encontrava em Toledo. Para surpresa de todos, ela responderia com esta pequena obra cheia de ironia e humor.

O manuscrito original, quase completo, são mantidos pelas Carmelitas Descalças de Guadalajara.

POESIAS

Teresa não foi propriamente poeta, e ela mesma disse. Ela escreveu versos simples sobre temas muito diversos. Alguns dos seus poemas brotaram da torrente de sua experiência mística. Outros serviram para animar as celebrações comunitárias e recreações. Canções de Natal, versos e romances sobre o que estava acontecendo; uma produção lírica popular, que reflete a natureza alegre e bom humor que ela queria imprimir às suas comunidades. Desses escritos, alguns escassos manuscritos de poemas ainda são preservados e na Biblioteca Nacional de Madrid existe uma cópia datada do século XVIII.

ESPIRITUALIDADE

Teresa de Jesus reconheceu em sua vida uma Presença que a rodeava carinhosamente à procura de amizade. Depois de muitos anos em uma batalha sem sucesso para “organizar esses dois opostos” Deus e o mundo, com confiança se abandonou nos braços de Cristo. E, a partir desse momento, Deus iria assumir o comando da sua vida e ela embarca em uma viagem fascinante rumo à “sétimas moradas”. Desta experiência nasce a espiritualidade teresiana.

Com sua vida e escritos, Teresa quis transmitir como era o Deus que havia saído ao seu encontro para entregar-se sem medida. Havia comprovado que não desejava outra coisa senão dar-se a quem o queira receber. Deus convida a pessoa para que entre em seu interior, onde Ele habita. Assim é “a grande beleza e dignidade da alma”, criada à imagem e semelhança de Deus e capaz de ter amizade com ele. Deus se entrega totalmente, não porque os seres humanos haviam acumulado méritos, mas porque Ele quer se revelar e suscitar resposta de doação. Teresa diz que este Deus doura as culpas e toma o máximo partido ao bem que há em cada um.

Teresa experimentou que a pessoa pode viver arrastada por sua identidade e destino instintivos e inconscientes de suas próprias forças. Desde este ponto de partida, o processo espiritual é para ela uma liberação de tudo o que separa a pessoa interior de seu objetivo: transformar a união com Cristo, o casamento espiritual.

A oração é a porta para entrar nesta dinâmica, cuja única exigência é uma “determinada determinação”. O fruto deste encontro na amizade, a humildade cresce pela iluminação da alma pelas verdades sobre quem é Deus, quem é a pessoa, o pouco que ela pode fazer com o seu esforço e o muito que ela recebe. A chave para progredir ao longo deste caminho é acolher como pobre aquilo que Deus oferece e responder à sua graça com uma generosa entrega de si.

Quando o amor divino acaricia uma alma, já não se pode medir sua vida segundo o cumprimento de alguns preceitos e ritos, senão segundo o amor com que responde a tantos dons recebidos. Portanto, esta experiência motiva uma transformação do ser em sua raiz, para acomodá-lo em uma amizade cada vez mais profunda com Deus e com os irmãos.

Teresa experimentou grandes desejos de plenitude e liberdade. Alertou que o ser humano tem em seu interior um vazio que nada consegue preencher, somente Deus. No entanto, se esforçam para preenchê-lo com aquilo que o deixa com mais fome. Não são as coisas ou as pessoas, mas a atitude tomada contra eles o que travam a vida em uma espiral de escravidão. A pessoa precisa desentranhar a mentira do mundo que carrega dentro de si, e entender que “tudo é nada” e que “só Deus basta”. Quando a alma já viu as grandezas de Deus, não lhe pesa qualquer desprendimento que a ajude a se livrar das cargas para se voltar face a Ele. “Andando na verdade” e na nudez, a fim de ser livre, finalmente.

Cristo é o centro da espiritualidade teresiana. Sua Humanidade curou afetivamente Teresa e a introduziu no mistério do Deus trino, comunhão de amor. Da opção radical por Ele brotará o desejo de satisfazê-lo em tudo. E já que o amor a Deus e ao próximo é o mesmo, o serviço ao outro autentica o seguimento àquele que “nunca se voltou a sí”. Teresa propõe um caminho de fé vivida em comunidade. Um grupo de amigos de Jesus, onde todos são para os outros um outro Cristo, tornando-se “um escravo de Deus e de todos” por amor. Isto é, esquecer-se de si mesmo e pensar sobre o bem do outro acima de tudo. Amor que preenche as pequenas coisas de cada dia, porque Deus não vê a grandeza das obras, mas o amor com que eles são feitos.

LUGARES

Teresa de Jesus experimentou como a misericórdia de Deus havia transformado sua vida. No entanto, não se refugiou em um intimismo auto-centrado e estéril. Diferente disso, a sua sensibilidade foi aguçada pelo sofrimento de um mundo que “está tudo em chamas”. Portanto, o desejo de compartilhar o que ele tinha recebido de Deus pediu-lhe. O fruto de sua conversão era uma atividade frutífera como fundadora e escritora que perdurou até sua morte.

Teresa sonhava com uma pequena comunidade que vivesse com autenticamente o Evangelho. Um sinal em meio a uma sociedade de valores perturbados e uma Igreja em crise. Um lugar de oração e trabalho, silêncio e fraternidade, onde “fazer aquele pouquinho que estava em mim” para melhorar a realidade. Em 1562, entre muitas dificuldades, esse sonho tornou-se realidade com a primeira fundação de Descalças: o convento de San José em Ávila.

Transcorria alegremente os dias de Teresa, quando o testemunho de um missionário vindo da recém descoberta América abalou o seu coração. Diante a morte de tantas criaturas, maltratadas pela ganância colonial e a falta de evangelizadores, Teresa sentiu a urgência de estender seu trabalho. Ela tinha 52 anos. A partir de então, sua vida foi tão intensa, de viagens e de novos conventos, que a sua imagem ficou conhecida na história como “a santa errante”.

Formou freiras e também frades ao longo dos mais de seis mil quilômetros percorridos das maltratadas estradas espanholas do século XVI. Seus conventos estavam se erguendo a uma taxa prodigiosa: Medina del Campo (1567), Duruelo (1568), Malagon (1568), Valladolid (1568), Toledo (1569), Pastrana (1569), Salamanca (1570), Alba de Tormes ( 1571), Segovia (1574), Beas de Segura (1575), Sevilha (1575), Caravaca (1576) Villanueva de la Jara (1580), Soria (1581), Palencia (1581) e Burgos (1582).

Teresa implantou suas extraordinárias qualidades pessoais para superar todos os tipos de obstáculos. A insuficiência de recursos económicos se juntava à dificuldade em conseguir licenças, a dificuldade das viagens, procura e acomodação das casas, sua saúde debilitada… Suspeita por ser de origem de judeus convertidos, por ser mulher e mística, em várias ocasiões foi denunciada para a inquisição que, em 1575, abriu um processo contra ela e suas monjas em Sevilla, da qual saiu absolvida. Encontrou quem a acusasse não só na nobreza e na burguesia, mas também na Igreja. Mesmo em sua própria ordem, a situação tornou-se insustentável e depois de um processo doloroso, as fundações Teresianas se separaram dela em 1580, dando origem ao Carmelo Descalço. E Teresa colocou em cheque os valores que regiam aquela sociedade.

Uma mulher sempre envolta em conflitos e necessidades, sua diplomacia astuta e notório conhecimento do mundo dos negócios foram cruciais para seu sucesso. Mas o que verdadeiramente movia sua realização era seu desejo de servir ao Amigo, a quem permanecia intimamente unida. De uma fé inabalável e de um apaixonado amor brotaram a coragem e a força para superar todas as adversidades.

Para Teresa, cada fundação foi uma verdadeira epifania. Deus estava estendendo seu reino conforme se inauguravam novas comunidades. E ela fazia isso se aproveitando da insignificância social da mulher. O espírito do mal se opunha a ela, semeando o caminho com muitas e muitas dificuldades. Mas o poder de Deus é sempre mais forte. Sua luz e sua bondade triunfavam cada vez que um novo Carmelo nascia.

Teresa dedicou sua saúde e vida ao serviço de Deus e da Igreja. Ela estava convencida da importante missão eclesial que acontecia em seus conventos. Ela entendeu que a oração é uma onda gigantesca e expansiva, e que por ela é possível alcançar a transformação pessoal e até mesmo cada cantinho da terra.

Santa Teresa de Jesus morre no dia 04 de outubro de 1582 em Alba de Tormes. Ela foi beatificada por Paulo V em 1614, canonizada por Gregório XV em 1622 e proclamada Doutora da Igreja pelo Papa Paulo VI em 1970. Ela foi a primeira mulher a ser premiada com o título.

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