Uma abordar a Kénosis, mergulhar na entrega de Jesus ao Pai

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Cristo é a “Cabeça”, unindo a todos em um sujeito comum, acolhendo todos em si mesmo. Ele também é o “Corpo”, incorporando a luta, as vozes, a tribulação e a esperança de todos nós. Somos, portanto, orantes deste Salmo, em comunhão com Cristo, onde passado, presente e futuro estão perpetuamente interligados. O mistério pascal não exclui o sofrimento humano, desmistificando a crença equivocada de que a fé elimina todo sofrimento.

Muitos se perguntam sobre a vantagem de crer se Deus não afasta o sofrimento de suas vidas. A história da Igreja testemunha numerosas biografias de santos que, apesar do sofrimento, permaneceram firmes em sua fé. A morte de Cristo na cruz cria um vínculo extremo e eterno entre Deus e o homem, revelando Sua solidariedade e presença na humanidade que sofre. O sofrimento humano atinge seu ápice na paixão de Cristo, tornando-se uma dimensão nova e redentora associada ao amor que supera as distâncias entre Deus e os pecadores. O horror da paixão de Jesus não é cancelado, mas sim ampliado, abrangendo a tribulação de toda a humanidade.

Essa compreensão do sofrimento de Jesus como uma paixão messiânica, um sofrer em comunhão com os homens, revela-se como a expressão máxima do amor, trazendo em si a redenção e a vitória do amor. Especular sobre a finitude ou infinitude da dor pode ser vão, mas a certeza é que a tortura expiatória situa-se na profundidade insondável de seu abandono pelo Pai. A ruptura trinitária, assim, supera e inclui todas as distâncias entre Deus e os pecadores. A Kénosis do Filho desempenha um papel central nessa compreensão, revelando a descida e o esvaziamento de Deus na encarnação, na vida de humildade e serviço, na cruz e na eucaristia. Continua…

É impossível abordar a Kénosis sem mergulhar na Kénosis do Filho. Sua encarnação, vida de humildade e serviço, o papel de defensor dos desprotegidos (go’el), a crucificação e a eucaristia revelam a plenitude da Kénosis de Deus. O Filho, através do Pai, desce ao humano, cumprindo promessas e projetos de vida, tornando-se servo e se entregando por amor.

Ao olhar para a cruz, vemos não apenas o amor, a humilhação e a aniquilação, mas também a descida de Deus ao humano, uma jornada que continua até os dias atuais e se perpetuará através do Espírito. Esse amor pleno, embora atinja seu ápice na cruz, revela-se desde a criação e atinge sua plenitude na encarnação. A descida de Deus, que convida o humano a descer à sua intimidade, renascer e, posteriormente, elevar-se, é uma constante na história da fé.

A Sagrada Escritura usa a palavra “elevar” para descrever o movimento ascendente após a descida. Jesus, após sua ascensão, envia o Espírito Santo, cuja descida é essencial para a ação divina na história e no mundo. O Espírito Santo, misteriosamente oculto, desempenha um papel crucial na ligação do Pai ao Filho, céu à terra, e na ação libertadora e vital na vida humana.

A figura do Filho, ao descer e se esvaziar, manifesta-se como o cumprimento da Kénosis do Pai e do Espírito Santo. A Kénosis do Filho não é apenas um evento isolado, mas a realização plena da descida e humilhação de Deus na Trindade.

O amor do Pai é uma fonte agápica inesgotável, princípio da unidade divina e de toda criação. Esse amor se manifesta na liberdade concedida à humanidade, constituindo um mistério arriscado para o Criador. A liberdade humana é a Kénosis mais radical de Deus, que renuncia à coação do amor.

Deus, que espera humildemente à porta do coração humano, revela-se na debilidade invencível. Essa debilidade não está na onipotência formal, mas no amor que livremente renuncia à onipotência. Deus assume a história e os sofrimentos humanos de forma a se tornar conhecido através do humano.

A Kénosis do Pai se reflete desde a criação até o Antigo Testamento, onde Ele se revela próximo, esvaziando-Se para encontrar a humanidade. Essa ação kenótica culmina na entrega de Seu Filho para a salvação. A história dos Patriarcas, o Êxodo, a Aliança, os profetas, todos são testemunhos da Kénosis do Pai na história humana.

O Espírito Santo, terceira pessoa da Trindade, é a personificação da descida e humildade. Sua missão é estabelecer o primeiro contato, revelar o Filho e capacitar o humano para a resposta a Deus. Sua existência é kenótica, agindo misteriosamente oculta, focando na revelação do Filho e na união do humano com Deus.

Desde a criação, onde o Espírito é o sopro da vida, até a descida em Pentecostes, o Espírito age silenciosamente na história. Em sua kénosis, ele se torna o elo entre o Pai e o Filho, céu e terra, Deus e os homens. A ação do Espírito é vital na formação da Igreja e na obra de recriação e sustentação da criação.

Nos Evangelhos, Atos dos Apóstolos e nas Escrituras, o Espírito Santo é protagonista. Sua descida em Pentecostes prepara o nascimento da Igreja, enquanto em João, ele é a fonte de vida e amor. O Espírito, sempre oculto e humilde, desempenha papel crucial na obra de Deus, sustentando a criação e guiando o humano em sua jornada kenótica.

A Kénosis do Filho não é um ato isolado, mas a manifestação plena da Kénosis do Pai e do Espírito Santo. O Filho revela-se como o cumprimento dessa descida e humilhação de Deus, uma jornada que inicia desde a criação e continua através da encarnação, crucificação e além.

A encarnação de Jesus é o ápice da Kénosis do Filho, onde Deus se torna carne, aproximando-se da humanidade. Sua vida de serviço, ensinamentos e sacrifício na cruz são expressões máximas dessa Kénosis, revelando o amor divino em sua plenitude. A Kénosis do Filho é a ponte que une a humanidade a Deus, conectando o presente, o passado e o futuro.

Na perspectiva trinitária, a Kénosis do Filho se torna uma expressão da profunda unidade entre Deus e o homem. Ele reza como Cabeça e Corpo, uma personalidade corporativa que abraça toda a humanidade em suas lutas, tribulações e esperanças. A morte de Cristo na cruz cria um vínculo extremo e eterno entre Deus e o homem, revelando a solidariedade divina com a humanidade que sofre.

O mistério pascal não exclui o sofrimento humano; pelo contrário, o sofrimento atinge seu ápice na paixão de Cristo. A cruz não cancela o horror do sofrimento, mas o transcende ao incorporar a tribulação de toda a humanidade. O sofrimento de Jesus, uma paixão messiânica, é uma experiência em comunhão com os homens, pelo homem, trazendo redenção e vitória do amor.

Especular sobre a finitude ou infinitude da dor é vão; contudo, a tortura expiatória se situa na profundidade do abandono pelo Pai. A ruptura trinitária supera todas as distâncias entre Deus e os pecadores. O sofrimento de Jesus não é apenas individual; ele abraça a humanidade em sua totalidade, passado, presente e futuro.

A Kénosis do Filho e a realidade do sofrimento revelam o vínculo extremo e eterno entre Deus e o homem, transformando o significado do sofrimento na história da humanidade. João Paulo II destaca que a cruz de Cristo torna-se uma fonte de onde brotam rios de água viva, mudando para sempre o significado do sofrimento e da dor na vida humana.

A história da Igreja é marcada por biografias de santos que, mesmo em meio ao sofrimento, permaneceram fiéis à sua fé. Esses mártires, declarados ou anônimos, fizeram da cruz de Cristo seu maior tesouro. A Kénosis divina se manifesta nesses santos, que testemunham a fé, o amor a Deus e a redenção em meio às adversidades.

A morte de Cristo na cruz revela a profundidade da kénosis divina, unindo o sofrimento humano à paixão de Cristo. O sofrimento humano atinge seu vértice na paixão de Cristo, mas, ao mesmo tempo, reveste-se de uma dimensão completamente nova. A cruz, antes símbolo de tortura, torna-se fonte de vida e redenção, como afirmou João Paulo II.

O estudo sobre a Kénosis oferece um conhecimento concreto da Trindade, proporcionando um relacionamento mais próximo com cada Pessoa divina. O Filho, ao se esvaziar e descer, se torna o modelo do amor kenótico. O Pai, na sua fonte agápica de amor, revela-se na história humana, esvaziando-se para criar, salvar e sustentar. O Espírito Santo, em sua ação oculta e humilde, é o elo que une o humano a Deus.

O humano, criado à imagem e semelhança de Deus, é chamado a viver a Kénosis, imitando o Pai, seguindo o exemplo do Filho e sendo capacitado pelo Espírito Santo. A Kénosis é um convite à descida e esvaziamento para se encontrar na criatura, no próximo e, finalmente, em Deus. Ao viver essa jornada kenótica, o humano realiza sua vocação criacional e encontra o sentido mais profundo da vida. A Kénosis, como caminho de encontro, revela o Deus kenótico que está presente em todas as dimensões da existência humana.

A Kénosis do Pai, manifestação do amor divino, é uma fonte inesgotável de agape. Seu amor é o princípio que une as pessoas divinas, toda a criação e a salvação, movendo-se na descida e humilhação que caracterizam a Kénosis da Trindade. O mistério humano da liberdade é um risco assumido pelo Criador, revelando sua Kénosis mais radical.

O Pai, na Kénosis, não busca controlar a liberdade humana, mas oferece o maior presente: a liberdade. Essa Kénosis é expressa na vulnerabilidade de Deus, que espera humildemente à porta do coração humano para ser acolhido em liberdade régia. Deus, na sua debilidade invencível, sofre conosco, compartilhando o pão do sofrimento.

A Kénosis do Pai se reflete na história, desde a criação até o go’el, o defensor dos sem defensores, nos profetas e na Aliança. Deus se revela próximo, esvaziando-se para se encontrar com a humanidade. O Deus distante torna-se tangível, concreto e acessível, oculto na vida humana. A Kénosis do Pai é um convite à compreensão do amor divino que, ao se esvaziar, revela-se como força e dinamicidade na história humana.

No batismo, o Filho se revela como realizador da plenitude da Kénosis. Sua vida de humildade, serviço e entrega total é a expressão máxima da Kénosis do Pai e do Espírito Santo. Em toda a vida de Jesus, o Pai e o Espírito estão presentes, inseparáveis. A Kénosis do Filho é a Kénosis do Pai acontecendo pelo Espírito Santo.

A Kénosis do Filho não é apenas um evento isolado, mas a plena realização da descida de Deus ao humano. Jesus, ao descer na encarnação, batismo, sofrimentos e abandono total, mostra a plenitude da Kénosis divina. Ele é o revelador da Trindade, cumprindo todas as promessas e instituindo o projeto de vida do Pai.

A Kénosis do Filho é um convite à imitação, pois ele não só revela o Deus kenótico, mas também mostra que é possível seguir esse caminho. O Filho é o exemplo máximo do amor louco de Deus pelo humano, revelando-se na descida, no serviço e no amor extremo que transforma a história da humanidade.

O Espírito Santo, na Kénosis, desempenha papel central na revelação trinitária. Sua descida é essencial para a ação de Deus na história e no mundo. Agindo misteriosamente oculto, o Espírito estabelece o primeiro contato, revela o Filho e capacita o humano para a resposta a Deus.

A Kénosis do Espírito é evidente desde o sopro da vida na criação até sua descida em Pentecostes. Seu papel é ligar o Pai ao Filho, o céu à terra, Deus aos homens, construindo pontes de amor. O Espírito age como força e dinamicidade na missão de recriação e sustentação da criação.

Na Kénosis do Espírito, Deus se expõe à humilhação e à dor por amor. Sua presença oculta na história é revelada na encarnação, crucificação e ascensão do Filho. O Espírito, ao descer sobre os crentes, revela-se como protagonista na formação da Igreja e no impulso à missão kenótica do Filho.

O discipulado kenótico, inspirado na Kénosis do Filho, é um desafio para os seguidores de Jesus. Ele chama os discípulos a imitar o Mestre na descida, humildade, serviço e amor extremo. O discipulado kenótico não é apenas uma prática individual, mas uma participação na missão kenótica da Trindade.

Jesus, ao lavar os pés dos discípulos, demonstra o caminho da Kénosis. Ele convida os discípulos a fazerem o mesmo, a abandonarem a busca por poder e status, a se esvaziarem para se encontrar no serviço aos outros. O discipulado kenótico é um testemunho vivo do amor divino manifestado na Kénosis do Filho.

O desafio do discipulado kenótico é radical. Ele requer uma renúncia do egoísmo, uma disposição para servir e uma entrega total ao amor de Deus. A Kénosis do Filho é o modelo que inspira os discípulos a viverem uma vida de amor e serviço, seguindo os passos do Mestre que se esvaziou por amor à humanidade.

A Kénosis traz implicações significativas para a compreensão da fé na contemporaneidade. O estudo da Kénosis nos convida a refletir sobre como vivenciamos nossa fé no mundo atual, marcado por desafios, crises e transformações. A Kénosis do Filho nos inspira a uma fé encarnada, que se envolve na realidade humana, abraça a fragilidade e busca o bem comum.

O contexto atual clama por uma Igreja que viva a Kénosis em sua missão, abandonando qualquer forma de triunfalismo e poder mundano. A Kénosis desafia a indiferença e convida à compaixão. Na atualidade, ser discípulo de Jesus implica em seguir o caminho da Kénosis, manifestando o amor de Deus através do serviço, da solidariedade e da busca pela justiça.

A Kénosis também oferece uma perspectiva de esperança diante das incertezas e sofrimentos contemporâneos. Ao vivermos a Kénosis, somos chamados a ser sinais de amor e esperança, testemunhando que, mesmo nas situações mais difíceis, o amor de Deus é presente e transformador. O desafio é viver a Kénosis em todas as dimensões da vida, tornando-se instrumentos do amor divino no mundo.

Ao explorarmos a rica teologia da Kénosis, somos conduzidos a uma compreensão mais profunda da Trindade e do chamado cristão. A Kénosis do Pai, do Filho e do Espírito revela um Deus que não apenas cria e salva, mas que se envolve profundamente na história humana, revelando-se na fragilidade e na humildade.

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